quinta-feira, 10 de maio de 2012

Bruno Daniel, irmão de Celso Daniel, então prefeito de Santo André (ABC Paulista) morto a tiros em 2002, disse que parte do PT tentou acobertar o assassinato. Segundo ele, a família não tem dúvidas de que o crime teve "motivação política", mesmo argumento usado pela acusação. A declaração foi dada nesta quinta-feira no intervalo do primeiro dia de julgamento de três dos acusados de cometer o crime.

"A família não tem nenhuma dúvida de que foi um crime com implicações políticas, ligada (...) à existência de esquemas de financiamento de campanha irregular. Aliás, como admitiu o (ex-) presidente Lula, de que todos os partidos fazem caixa 2, inclusive o dele. Infelizmente é a maneira pela qual se faz política aqui no País", afirmou Bruno Daniel, para quem não tem "fundamento" a tese de que Celso Daniel foi vítima de um crime comum.
O julgamento acontece no Fórum de Itapecirica da Serra e, hoje, estão sendo julgados Ivan Rodrigues da Silva, o Monstro; Rodolfo Rodrigo dos Santos Oliveira, o Bozinho; e José Edison da Silva - todos negaram participação no crime. Na avaliação de Bruno Daniel, os depoimentos dos réus - acusados de terem sido contratatos para matá-lo - foi uma "encenação", e as provas do Ministério Público são "irrefutáveis".

O irmão de Celso Daniel também criticou o PT, e disse que "alguns companheiros" tentaram "acobertar" os reais motivos da morte do então prefeito de Santo André. De acordo com a promotoria, o político foi morto após descobrir o enriquecimento ilícito por pivôs de um esquema de corrupção que operava na administração municipal da cidade para financiar as campanhas políticas do Partido dos Trabalhadores.
"Nós tínhamos amigos no PT, e tivemos na verdade que fazer dois lutos: o luto do assassinato do meu irmão e o luto de um conjunto de companheiros que agiram o tempo inteiro no sentido de acobertar o crime", afirmou, citando o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. "Todas as ações do PT no sentido de defender a tese de crime comum, sem nenhuma consistência, é lamentável.(...) Esperamos que o caso sirva como elemento de reflexão para alterar a realidade da qual nós vivemos", concluiu.
Hoje também seriam julgados os réus Itamar Messias dos Santos Filho e Elcyd Oliveira Brito, o John, mas os advogados deles abandonaram o plenário e os dois serão julgados apenas no dia 16 de agosto. As 13 testemunhas convocadas foram dispensadas, e a expectativa é que o julgamento seja concluído ainda hoje, após o debate entre os advogados de defesa e a promotoria.

A morte de Celso Daniel
Então prefeito de Santo André (SP), Celso Daniel (PT) foi sequestrado em 18 de janeiro de 2002, quando saía de um jantar. O empresário e amigo Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, estava no carro com ele quando foi rendido. O político foi levado para um cativeiro na favela Pantanal, em Diadema (Grande ABC), e, depois, para uma chácara em Juquitiba, a 78 km de São Paulo, sendo assassinado a tiros dois dias depois. Na época, o inquérito policial concluiu que Celso Daniel teria sido sequestrado por engano e acabou morto por uma confusão nas ordens do chefe da quadrilha. Mas a família solicitou a reabertura das investigações ao Ministério Público.

As novas averiguações apontaram que a morte de Celso Daniel foi premeditada. As contradições entre as declarações de Sombra e as perícias feitas pela polícia lançaram suspeitas sobre o amigo do então prefeito. Ele havia dito que houve problemas nas travas elétricas do carro em que os dois estavam, que houve tiroteio com os bandidos e que o carro morreu. Mas a perícia da polícia desmentiu todas as alegações.

MP denunciou sete pessoas como executoras do crime, sendo que Sombra foi apontado como o mandante do assassinato. Ele foi denunciado por homicídio triplamente qualificado - por ter contratado os assassinos, pela abordagem ter impedido a defesa da vítima e porque o crime garantiria a execução de outros. De acordo com o MP, o empresário fazia parte de um esquema de corrupção na prefeitura de Santo André que recebia propina de empresas de transporte, mas Celso Daniel teria tomado providências para acabar com a fraude, o que motivou a morte. Ele nega a acusação.

A Justiça decidiu levar todos os acusados a júri popular. Além de Sombra, José Edson da Silva, Elcy Oliveira Brito, Ivan Rodrigues da Silva, Itamar Messias Silva dos Santos e Rodolfo Rodrigo dos Santos Oliveira serão julgados pela prática de homicídio qualificado (por motivo torpe, mediante paga ou promessa de recompensa e por impossibilitar a defesa da vítima), cuja pena máxima é de 30 anos de reclusão. Em novembro de 2010 aconteceu a primeira condenação do caso: Marcos Roberto Bispo dos Santos pegou 18 anos de prisão em regime fechado.
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